Como funciona o trabalho com cães no ambiente esportivo: Beacon nos EUA, Kaica Maria e Leo no Brasil
Fonte: espn.
Será que conseguimos ter a dimensão do cotidiano de um atleta de alta performance? Pessoas que se dedicam de corpo e alma para atingir uma meta, sacrifício, muito trabalho e renúncias, além da adoção de um estilo de vida que depende de motivação e disciplina, tudo isso para alcançar os seus sonhos.
O texto de hoje tem como objetivo apresentar alguns aspectos relacionados à presença do cão Beacon, um Golden Retriever, na preparação da equipe de Ginástica Artística dos Estados Unidos. A participação dele teve muita repercussão nas redes sociais. Por um lado, isso é realmente maravilhoso, pois dá alcance ao trabalho e reconhecimento a Intervenção Assistida por Animais (IAA), por outro, dificuldades de compreensão no sentido do que é de fato trabalho.
É comum a percepção de que os cães são seres amáveis, diante de interações saudáveis e prazerosas, desde que elas sejam para eles também. Por isso, minha intenção a partir de agora é considerar alguns pontos: 1. A execução do trabalho em parceria com cães em programas de Intervenção Assistida por Animais depende da formação do humano/condutor e da seleção e treinamento do cão. Isso é de suma importância para compreender quem é o “Beacon” e sua condutora. Ambos formam uma dupla registrada como voluntários na Pet Partners, uma instituição tradicional e precursora do trabalho com cães, promovendo benefícios ao desenvolvimento humano. Salvo em algumas matérias americanas, não vi a informação de que a condutora do Beacon, além de ser ex-atleta, tem formação em educação e é voluntária na Pet Partners desde 2015. Ao meu ver, isso é indispensável ao divulgar a informação, pois anuncia ao público leigo tratar-se de um trabalho sério que envolve preparação da condutora e do cão. Evidentemente, não tenho acesso ao desenho do projeto, apenas busquei informações diretamente em sites americanos. A formação do humano é indispensável, visto que é de responsabilidade dele o zelo pelo bem-estar de todos os envolvidos, isso inclui o animal.
2. Outro ponto fundamental são os benefícios promovidos pela introdução do cão em ambientes de trabalho. Tais benefícios advém da interação e vínculo entre humanos e cães. Assim é o trabalho com IAA, onde nos valemos exatamente dessa interação. Ela é intencional e acontece a partir de sessões, a fim de alcançar os objetivos previamente estabelecidos e assim colaborar com a promoção do bem-estar e saúde das pessoas que recebem a IAA. No caso do Beacon, os benefícios, divulgados na mídia, têm amparo científico, mais especificamente em vastas pesquisas realizadas no campo da Antrozoologia. No entanto, vale lembrar que o cão por si só não é um terapeuta, mas sua presença e interação com humanos se bem conduzida pode promover benefícios tanto fisiológicos quanto psicossocias.
Ao ler os incontáveis posts e vídeos nas redes sociais sobre Beacon e o quanto ajuda as atletas a reduzir o estresse, a ansiedade, a aumentar sua confiança, além de promover conexão entre equipe, família e atletas, lembre-se que existe uma pessoa responsável pelo processo e que de acordo com a Pet Partners Tracey Callahan Molnar é condutora do cão e voluntária desde 2015, sendo Beacon seu segundo parceiro canino de trabalho.
Lembre-se, a introdução de animais em ambientes de trabalho sob a ótica da Intervenção Assistida por Animais(IAA) requer formação. Uma das alternativas é buscar uma entidade como a Pet Parteners, por exemplo, que ofereça treinamento para os voluntários, como fez a condutora do Beacon.
Após apresentar essas considerações, quero dizer que no Brasil já tivemos programa de Intervenção Assistida por Animais em ambiente esportivo. Sei disso, porque fui a responsável pelo Programa de IAA - Entre 4 linhas e 4 patas - juntamente com as Psicólogas do esporte Annie Kopanakis e Tais Rios. Programa que foi organizado para apoiar as atletas das categorias de base do futebol feminino das Guerreiras Grenas (Ferroviária - SAF). Quero destacar uma vez mais que a participação dos cães, de fato, pode promover benefícios aos atletas. No entanto, de acordo com a metodologia Perruneando da Espanha, elaboramos um perfil de adequação do cão. Isso significa que o cão não atuará em todos os ambientes e com todos os públicos, necessariamente.. É indispensável à garantia do bem-estar animal. No caso da Kaica Maria e do Leo (in memoriam) cada um deles participava de atividades pré-definidas de acordo com o indicado para cada um.
É realmente incrível o quanto um cão pode facilitar processos e motivar as pessoas, mas precisamos urgentemente entender que o cão também deve ser olhado e que as interações precisam ser benéficas para ambos. Há quem diga que é magia, mas isso é resultado de uma conexão que teve início há milhares de anos e que permitiu a coevolução de humanos e cães.
Espero que este texto lhe ajude a compreender melhor como é o trabalho com cães na IAA. Confesso que o ambiente esportivo é um dos meus preferidos. Na foto estamos Kaica e eu apoiando as atletas do sub 15, no pré-jogo, válido pelo campeonato paulista. Kaica participou inclusive do credenciamento para o jogo, realizado pela Federação Paulista de Futebol(FPF) e recebeu o seu crachá de acesso.
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